sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Melodias da Vida



           A vida é marcada por momentos. Os meus momentos sempre são acompanhados de uma música. Não importa quanto tempo passe, quando eu escuto a música que marcou um período da minha vida é como se eu revivesse todos os sentimentos e sensações daquela época. Agora estou ouvindo “You are the only exception” do Paramore. Gosto muito dessa música, a escutava numa fase onde meu coração estava em pedaços. Essa música remoia tudo o que eu sentia e jogava na minha cara dizendo que a única verdade que eu conhecia já não servia mais. Hoje quando a escuto ainda me identifico, acredito em cada verso, mas com o tempo as coisas se tornam brandas e suportáveis, quase uma dor boa! Aquela sensação que o passado passou, mas nunca é esquecido.       
            Quando eu escuto “California Gurls” da Katy Perry me lembro da minha viagem para Flórida. Essa música tocava muito. Foi uma época muito boa na minha vida. Numa tarde quando eu estava na Downtown Disney e começou a tocar essa música, naquele instante eu percebi que estava no momento mais pleno da minha vida, me sentia no controle da minha vida, estava feliz e completo de verdade. Da maneira que nunca me senti. Naquele instante eu descobri que a felicidade plena existe! Ouvir essa música me leva a um estado de espírito que só senti uma vez na vida, mas que vale a pena lutar para alcançá-lo.
            Quando escuto “Wishing on a star” da Cover Girls me lembro da minha infância, da melhor e da pior fase da minha vida. É a dicotomia perfeita daquela época. Uma fase tão intensa, um período que foi fundamental para que eu seja como sou hoje! Um passado que me traz a maior saudade que já senti e uma falta que nem o tempo consegue amenizar. Depois anos para achar essa música. Agora posso escutá-la quando o coração aperta.
            Outra música que mexe muito comigo é “Short Trip Home” tocada pelo Joshua Bell. Essa canção é sinônimo de paz para mim. Quando a escuto me sinto como se estive voltando para casa, indo ao encontro da paz e da serenidade. Sinto como se fosse um momento onde a vida me oferece um outro ritmo para se viver, onde eu posso sentir a verdadeira essência das coisas e desfrutar do tempo que a vida me oferece.
            Por fim a música que mais me identifico na vida! Aquela que sempre foi a “minha música”. Quem me conhece um pouquinho mais sabe que só poderia ser “La Forza della Vita” do Renato Russo. Comecei a escutar essa música ainda na infância, ouvia toda as noites durante anos. Eu não entendia o que a letra queria dizer, mas sabia que essa música era especial pra mim de alguma forma. Falava que um dia eu iria aprender italiano e entenderia a música, pois é, o tempo passou mais rápido do que imaginava, hoje falo italiano e entendo o que a música diz. Tenho ainda mais certeza que essa música traduz muito do que eu vivi e do que eu sou.
            Essas são apenas algumas de tantas trilhas sonoras que embalam minha vida. Não consigo imaginar o que seria da vida sem as canções que nos emocionam e nos cativam de forma tão especial. Conseguir pontuar algumas entre tantas foi difícil, mas muito gostoso poder pensar na diferença que faz a música na minha vida.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Curvas Intermitentes



                O tempo está passando e eu não sei quem estou me tornando. Na verdade ando deixando esse tipo de pensando de lado, já basta de tanto dar voltas sem saber aonde chegar. Estou descobrindo como as pessoas são tolas nessa vida! Elas te fazem amá-la por vaidade, elas te machucam por amargura. Todos são tão egoístas e rasos que dá pena! Não quero mais perder meu tempo com esse tipo de pessoa que vive em uma redoma de vidro onde só enxergam a si mesmo para onde quer que olhem.
                A única verdade que vejo é a vida que está lá fora e a que se encontra dentro de nós. Por que vivemos nossas vidas evitando essa verdade tão óbvia? Trabalhamos muito, dormimos pouco, perdemos nosso tempo com coisas que julgamos ser importantes para que um dia possamos chegar à felicidade, mas já reparou que essa felicidade nunca chega?
                Desperdiçamos nossa vida de forma tão banal! Não quero viver esse tipo de realidade, não quero ser escravo do presenteismo e dos valores descartáveis. Quero ter o meu tempo, as minhas escolhas. Poder viver meus sonhos, minha vida e minha felicidade.
                 Quero ter tempo pra mim, para poder estar comigo mesmo e com as pessoas que amo! O dinheiro, o prestígio e o sucesso são coisas boas, mas não substituem um por do sol, um banho de mar, uma música a dois. Não entendo para que tanto sacrifício se tudo o que quero está na simplicidade da vida!
                Posso parecer insensato, mas não vou deixar que outras pessoas destruam a realidade que eu escolhi viver. Podem fazer o que quiserem comigo, eu vou continuar fazendo minha cara de bobo, fingindo que concordo com tudo, mas no fundo estarei rindo da sua tentativa infeliz de despejar suas frustrações em mim e me fazer infeliz.

“Podem até maltratar meu coração, mas meu espírito ninguém vai conseguir quebrar”

domingo, 11 de setembro de 2011

A Estrada inexistente


O tempo passa tão rápido que nem nos damos conta disso. Quando percebemos os dias se tornaram anos e as coisas mudaram totalmente da imagem que temos pintada em nossa memória. Amizades de outrora hoje não passam de uma doce lembrança, a qual insistimos em acreditar que ainda vive. Tantas mudanças, tantos acontecimentos... e quando vemos, nossa vida tomou um rumo inesperado. Nunca saberemos se é o melhor caminho, mas é o que escolhemos ou o que a vida nos impôs, ou melhor, provavelmente um misto de ambos.
No meu anseio na busca pelo caminho certo acabo ficando estagnado diante das possibilidades e conseqüências, mas ando percebendo que o caminho que desejo não está onde procuro, mas no avesso disso! No avesso de minhas perspectivas, ideais, sonhos e desejos encontro as respostas que procuro... nenhuma.
No meio de tantas incertezas eu ainda não havia feito a pergunta certa, e só para essa eu obteria uma resposta. Aí o jogo muda totalmente, ao invés de buscar a resposta certa tenho que encontrar a pergunta certa! Olhar para dentro e conhecer do que sou feito, esse é o primeiro passo para conhecer o que vem depois.
Simples falar, difícil de fazer... mas sou insistente! Não desisto com muita facilidade! Estou disposto a ir fundo nas coisas, fazer o que tenho que fazer de todo o coração! Não sei em que resultado isso chegará, mas terei a certeza de que dei o melhor de mim em cada momento e isso me fará feliz. Saber que tentei de verdade, fui ao limite, só assim estarei em paz com as adversidades da vida. Só assim poderei sorrir com as intempéries da alma.
Sempre caminhando, sempre caminhando...
... Espero encontrar algum de vocês nessa estrada que não sei onde levará.

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Fernando Pessoa
(Ricardo Reis)

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O tempo



Virar a pagina para mim sempre foi uma coisa muito complexa! Nunca tive aptidão para o Carpe Diem, para esquecer o passado e viver apenas o presente. Muito pelo contrário, carrego fragmentos de tudo que já vivi comigo e não permito me esquecer de nenhum. Às vezes esse peso me estagna, me cansa, por muitas vezes deixo os resquícios de outrora dominar minha vida presente.
Fico imaginando realidades alternativas, possibilidades de vida que nunca aconteceram, sempre remoendo o passado na busca de respostas para o sentido que a vida tomou! Encontro e desencontro essas respostas diariamente. As modifico, as transformo na esperança de um dia me ver satisfeito com o resultado encontrado na minha vida.
Satisfação? Parece piada dizer isso, não sei o que realmente significa essa palavra, só sei que não posso parar, não posso esperar! Mesmo que eu carregue as ilusões e fantasmas do passado continuo prosseguindo, tentando distinguir o que é real do que é fruto da minha imaginação, das ilusões e dos desejos do meu subconsciente. Continuo a caminhar, a passos curtos, mas não paro! O cavalo mesmo carregando grandes pesos não para, prossegue de cabeça erguida seu caminho, sem reclamar, sem oscilar, sempre na busca de seu destino, do seu ponto de chegada, onde poderá se livrar dos pesos e das amarras e puder viver a liberdade terrena a qual é sua essência.
Apenas sou assim... preso entre o passado e o futuro, tentando viver o presente!
Esse trecho do Caio Fernando Abreu fala um pouco sobre isso:

“Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais - por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia – qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido. Eu prefiro viver a ilusão do quase, quando estou ´quase´ certo que desistindo naquele momento vou levar comigo uma coisa bonita. Quando eu ´quase´ tenho certeza que insistir naquilo vai me fazer sofrer, que insistir em algo ou alguém pode não terminar da melhor maneira, que pode não ser do jeito que eu queria que fosse, eu jogo tudo pro alto, sem arrependimentos futuros! Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. Talvez loucura, medo, eu diria covardia, loucura quem sabe! “

Mas o que o Caio Fernando Abreu não sabe é que no final as coisas sempre dão erradas quando tem que dar. A vida vivida na ilusão das possibilidades pode parecer bonita, mas no final toda essa louca covardia só nos leva a um caminho... a solidão.
Aprender a fazer escolhas e não-escolhas e um grande desafio na vida, mas com o tempo a gente aprende, amadurece, cresci. Se realmente quisermos. É como a Dory diz: “Se a vida decepciona, continue a nadar, para achar a solução, continue a nadar”

Essa cena do Rei Leão é a minha predileta e está relacionada a tudo isso que eu disse anteriormente!

http://www.youtube.com/watch?v=Dw4cGUFb_GA&feature=related

Espero que gostem e que entendam o que eu tentei expressar em palavras!

domingo, 19 de junho de 2011

Perspectiva



Acordei especialmente inspirado hoje! É tão diferente quando se tem tempo para observar o mundo a sua volta. Normalmente estamos correndo tanto que não paramos para realmente sentir a vida que possuímos. É engraçada a forma que tentamos controlar nossas vidas, fazemos planos, criamos expectativas e no final descobrimos que o real controle de nossas vidas não está em nossas mãos. As intempéries que surgem em nossos caminhos, o acaso, o inesperado são fatores que não podemos controlar e são os quais fazem toda a diferença.
Com o tempo nós vamos aprendendo que tudo que guardamos em nosso coração se está ali não pode ser uma coisa ruim. Talvez o que seja necessário é repaginar os sentimentos, mas nunca destruí-los, eliminá-los de nós. O coração não é cego assim, sabe o que faz! Nosso erro é querer teorizar e controlar nossos sentimentos. Quando isso acontece tudo dá errado, não funcionamos com exatidão como as maquinas e é isso que dá toda a graça para as coisas.
De repente, não mais que de repente. Sinto uma nostalgia boa, aquela sensação que te invade e diz que tudo valeu à pena, que você tomou o caminho que deveria ter tomado, caiu, levantou, mas aprendeu muito com isso. Descobriu que nem sempre as coisas são deveras ruins. Tudo está dentro de nós e na forma que vemos o mundo. No final das contas tudo é tão simples, só é necessário aprender a enxergar. Aí aprendemos que fizemos o que deveríamos ter feito, na hora certa, no momento certo e no final tudo se ajeitou como deveria ser.
Somos o que somos. Entender isso é o começo de tudo. Não tenha receios, pudores. Viva o que deve viver sem hesitação, sem remorso. Não há certo ou errado no mundo dos sentimentos, apenas possibilidades. Conciliar os sentimentos, a consciência e o inesperado são a melhor receita para uma vida plena. Deixa seus pressupostos para trás, tire as máscaras que o mundo te faz usar, rejeite tudo que não te faz bem. Não tenha medo de ser o que é. Se aceite como uma pessoa singular e aceite o mundo.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Os Fragmentos da Realidade



Já era hora de escrever, estava acumulando esse ímpeto que me faz expressar em palavras o que se passa em meu coração. Ficar em casa, na solidão, me permite desfrutar momentos comigo mesmo, me permite ver meu rosto no espelho, e entender que o espelho só mostra metade da verdade.
Estou num marasmo, numa calmaria sem fim. Evito o murmurinho das festas, das agitações, não por tristeza, apenas por precisar estar mais comigo do que com qualquer pessoa. Estava procurando um estímulo, um motivo para tudo o que eu faço e queria encontrar isso em mim, afinal não posso colocar o peso de minha vida em outras pessoas. Apenas eu sou responsável pela minha felicidade, pelo meu animo, ninguém além de mim pode ter essa responsabilidade.
Mesmo sem encontrar respostas, acho que encontrei meu eixo. Lembrei de antigos amigos, pessoas tão importantes outrora e agora inexistentes em minha vida. Sinto saudades, mas é uma saudade boa! Não aquele que dói que machuca! Uma saudade de bons tempos vividos, mas tempos passados.
Sinto-me tão feliz lembrando dos amigos que já tive, e dos amigos que tenho! Em pensar como eles me fazem feliz, como aprendo com eles, mesmo que indiretamente. Muitas vezes aprendemos mais escutando, acolhendo, observando. São únicos para mim no mundo, mesmo que muitas vezes eles nem saibam disso! Há também pessoas que nem sabem que são meus amigos! Ser amigo não carece contrato pré-estabelecido, apenas é o que é! Agradeço também a esses amigos “ocultos” que me ajudam a ser uma pessoa melhor, me ajudam a entender minha própria vida.
Não sou uma pessoa constante e nem almejo ser. Posso às vezes, não ser um amigo presente, mas isso definitivamente não significa que eu não ame as pessoas que eu tenho o orgulho de chamar de amigo. Às vezes sou arisco, não me deixo dominar por sentimentos e lugares, quando isso começa a acontecer tenho o hábito de fugir. A fuga não é deveras ruim, com ela evito me cegar, evito o comodismo do óbvio, do previsível. Pode parecer frio, distante, mas possuo um coração quente, às vezes até explosivo, mas nunca gélido.
O espelho apenas revela metade de mim, metade do que sou. A outra parte, minha essência, está em constante mudança. É complexa, difusa, mas ao mesmo tempo simples e acolhedora aos olhos. Se quiser conhece-me ao todo deve despir-se de qualquer pressuposto e paradigma existente e, é claro, trazer a chave certa!

segunda-feira, 7 de março de 2011

A solidão amiga



Gostaria de compartilhar com vocês um texto que encontrei há anos, mas guardei comigo, pois entendo as palavras proferidas, as sinto em meu intimo. Espero que apreciem essa síntese sobre a solidão.

“A noite chegou, o trabalho acabou, é hora de voltar para casa. Lar, doce lar? Mas a casa está escura, a televisão apagada e tudo é silêncio. Ninguém para abrir a porta, ninguém à espera. Você está só. Vem a tristeza da solidão... O que mais você deseja é não estar em solidão...
Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão. Lembro-me de um jovem que amava a solidão: ficar sozinho, ler, ouvir música... Assim, aos sábados, ele se preparava para uma noite de solidão feliz. Mas bastava que ele se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha. Aí a cena se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ninguém estava se lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E aí a tristeza entrava e ele não mais podia curtir a sua amiga solidão. O remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se, saía, ia para a festa... Mas na festa ele percebia que festas reais não são iguais às festas imaginadas. Era um desencontro, uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solidão... A noite estava perdida.
Faço-lhe uma sugestão: leia o livro A chama de uma vela, de Bachelard. É um dos livros mais solitários e mais bonitos que jamais li. A chama de uma vela, por oposição às luzes das lâmpadas elétricas, é sempre solitária. A chama de uma vela cria, ao seu redor, um círculo de claridade mansa que se perde nas sombras. Bachelard medita diante da chama solitária de uma vela. Ao seu redor, as sombras e o silêncio. Nenhum falatório bobo ou riso fácil para perturbar a verdade da sua alma. Lendo o livro solitário de Bachelard eu encontrei comunhão. Sempre encontro comunhão quando o leio. As grandes comunhões não acontecem em meio aos risos da festa. Elas acontecem, paradoxalmente, na ausência do outro. Quem ama sabe disso. É precisamente na ausência que a proximidade é maior. Bachelard, ausente: eu o abracei agradecido por ele assim me entender tão bem. Como ele observa, "parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxoleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis". A vela solitária de Bachelard iluminou meus cantos sombrios, fez-me ver os objetos que se escondem quando há mais gente na cena. E ele faz uma pergunta que julgo fundamental e que proponho a você, como motivo de meditação: "Como se comporta a Sua Solidão?" Minha solidão? Há uma solidão que é minha, diferente das solidões dos outros? A solidão se comporta? Se a minha solidão se comporta, ela não é apenas uma realidade bruta e morta. Ela tem vida.
Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais amo: "Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você." Pare. Leia de novo. E pense. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim.
Como é que a sua solidão se comporta? Ou, talvez, dando um giro na pergunta: Como você se comporta com a sua solidão? O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma inimiga... Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. Mas será possível chamá-la de amiga? Drummond acha que sim: "Por muito tempo achei que a ausência é falta./ E lastimava, ignorante, a falta./ Hoje não a lastimo./ Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim./ E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,/ que rio e danço e invento exclamações alegres,/ porque a ausência, essa ausência assimilada,/ ninguém a rouba mais de mim.!"
Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões da saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em comunhão com a natureza. Elas não vêem as árvores, nem as flores, nem as nuvens e nem sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que "o inferno é o outro." Sobre isso, quem sabe, conversaremos outro dia... Mas, voltando a Nietzsche, eis o que ele escreveu sobre a sua solidão:
"Ó solidão! Solidão, meu lar!... Tua voz - ela me fala com ternura e felicidade!
Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas.
Pois onde quer que estás, ali as coisas são abertas e luminosas. E até mesmo as horas caminham com pés saltitantes.
Ali as palavras e os tempos/poemas de todo o ser se abrem diante de mim. Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para aprender de mim a falar."
E o Vinícius? Você se lembra do seu poema O operário em construção? Vivia o operário em meio a muita gente, trabalhando, falando. E enquanto ele trabalhava e falava ele nada via, nada compreendia. Mas aconteceu que, "certo dia, à mesa, ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela casa - garrafa, prato, facão - era ele que os fazia, ele, um humilde operário, um operário em construção (...) Ah! Homens de pensamento, não sabereis nunca o quando aquele humilde operário soube naquele momento! Naquela casa vazia que ele mesmo levantara, um mundo novo nascia de que nem sequer suspeitava. O operário emocionado olhou sua própria mão, sua rude mão de operário, e olhando bem para ela teve um segundo a impressão de que não havia no mundo coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreensão desse instante solitário que, tal sua construção, cresceu também o operário. (...) E o operário adquiriu uma nova dimensão: a dimensão da poesia."
Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço, disse o seguinte: "As obras de arte são de uma solidão infinita." É na solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário, que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta.
E me lembro também de Cecília Meireles, tão lindamente descrita por Drummond:
"...Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos... Distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília..."
Sim, lá estava ela delicadamente entre os outros, participando de um jogo de relações gregárias que a delicadeza a obrigava a jogar. Mas a verdadeira Cecília estava longe, muito longe, num lugar onde ela estava irremediavelmente sozinha.
O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kiekeggard, um solitário que me faz companhia até hoje, observou que o início da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria carne. Foi quando eu, menino caipira de uma cidadezinha do interior de Minas, me mudei para o Rio de Janeiro, que conheci a infelicidade. Comparei-me com eles: cariocas, espertos, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca fui convidado a ir à casa de qualquer um deles. Nunca convidei nenhum deles a ir à minha casa. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. E nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão...
A sua infelicidade com a solidão: não se deriva ela, em parte, das comparações? Você compara a cena de você, só, na casa vazia, com a cena (fantasiada) dos outros, em celebrações cheias de risos... Essa comparação é destrutiva porque nasce da inveja. Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói. Dói uma dor da qual pode nascer a beleza. Mas não sofra a dor da comparação. Ela não é verdadeira.”

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Caminhos nebulosos



Me encontro muito cansado fisicamente, já é tarde, mas ainda assim minha mente quer produzir, então vim até o computador ver o que poderia sair dessa necessidade.
Hoje foi meu ultimo dia de férias, consegui descansar, me divertir e clarear meus caminhos que se encontraram nebulosos. Os mesmo olhos que mostram outra perspectiva do mundo também pode nos confundir dentre as possibilidades, mas quem busca cedo ou tarde encontra o que procura. Minha inquietude diminuiu, já não procuro resultados, mas sim caminhos, isso já basta! Não importa o fim da Jornada, mas sim as experiências do trajeto.
Não saber o futuro ainda me incomoda, mas ter a paciência da espera, da busca e do tempo, faz tudo mudar... Temos que encontrar nosso ritmo, nossas perspectivas e nossos sonhos, se aos poucos investirmos nisso chegaremos onde desejamos. Sem medo, sem presa, sem anseios. Apenas teremos chegado ao fim da viagem que escolhemos viver, mas com a diferença de que tudo que vivemos nos transformou, pois não fomos afoitos, deixamos a vida seguir seu curso, da forma mais indomável da palavra.
Procurar sempre fazer o bem para o nosso corpo e espírito é a melhor forma para se buscar uma vida plena e feliz. Parece algo extremamente simples, mas não é! Pense nisso...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Navegando...


Como é curioso pensar nas pessoas. Pensar que TEMOS amizades, TEMOS amores, TEMOS companheirismo, TEMOS, TEMOS, TEMOS.... Que inútil ilusão de posse! Podemos fazer mil coisas, conhecer mil pessoas, podemos brindar boas novas e compartilhar confidencias, mas no final será apenas nós com nós mesmos.
Se for olhar bem lá no fundo verá que somos como ilhas, sozinhas, isoladas... por mais que queiramos acreditar no oposto é assim que todos nós somos! A solidão está presente em todos, basta querer enxergá-la ou não.
Um dia acreditei que me sentiria completo se tivesse uma pessoa que me fizesse sentir assim, mas hoje vejo que esse sentimento de completude vem de momento, de situação e não diretamente dos outros. Nos momentos que estamos sozinhos no escuro do nosso quarto o conflito é com nós mesmo! Enfrentamos nossos medos e alimentamos nossos anseios.
Numa época tive medo de me sentir sozinho, esquecido. Depois quis ficar isolado e esquecido. E nesses dois momentos eu via que continuava me sentindo só e que um vazio ainda existia dentro de mim. Consegui entender que eu não poderei SER completo, apenas ESTAR completo e isso fez toda a diferença!
Tudo isso me veio à cabeça com as comemorações de final de ano. Ficaria feliz se algumas pessoas se lembrassem de mim e me desejassem feliz ano novo ou receber um cartão de natal inesperado! Antigamente isso acontecia, sabe! Mas por que não mais? Talvez eu esteja sendo displicente, admito isso! Mas será que apenas eu devo cultivar laços? É engraçado, quando eu era mais atencioso com as pessoas eu não esperava grandes respostas, pois apenas o fato de fazer já me bastava, mas dessa vez nada fiz e esperei inconscientemente alguma coisa. Não culpo ninguém, para essas coisas não existem culpados! E eu cometi o grande pecado: Esperar alguma coisa dos outros!!!
Outro fato engraçado. Eu continuo postando no blog mesmo sabendo que quase ninguém lê o que escrevo, mas ainda assim sinto necessidade de escrever e gosto de fazê-lo! No final das contas eu não escrevo para ninguém, escrevo apenas para mim. E não acho isso algo ruim...
Agora entendo e acredito que tudo isso faça parte! Somos o que somos e nada além disso. Por ora vou continuar navegando por esse mar a procura da minha ilha desconhecida.
Talvez eu a encontre e desvende seus segredos, talvez eu a procure por toda uma vida, mas no final isso não tem tanta importância, porque estarei acompanhado da única pessoa que talvez possa entender todas as minhas nuances, basta olhar no espelho para a encontrar.